Sunday, June 12, 2011

A Casa da Avó Aninhas

Era uma eira repleta de primos, poesia e violinos ao luar.
Era uma casa de paz e sorrisos, de pão, presunto e vinho tinto.
Era uma casa onde o avô fumava às escondidas e andava de bengala.
Era uma casa com campos de centeio, pomares de laranjeiras, vinhas, fontes e riachos de água pura...
Era uma casa onde os adultos de hoje pensavam, de forma inconsciente, que seriam sempre crianças e para sempre felizes.
A casa da avó Aninhas será sempre o meu refúgio, o meu lar de aconchego, a minha valsa, o meu colo, o meu tango....porque era a casa de tudo e de todos....éramos tão família, éramos tão livres e unidos...não tínhamos poeira nos sótãos, não tínhamos passado – apenas o presente das cambalhotas e do jogo da macaca....o king, o meu fiel amigo que, apesar da sua condição de cão foi e será melhor que muitas das pessoas que se cruzaram no meu caminho...o futuro estava tão longe....e agora....agora, os tacões cresceram, o tempo passou, cada um casou e se afastou, a casa só existe na minha imaginação....
A minha avózinha foi para o céu há uns anos atrás, quando todos menos esperávamos.
Para mim, é uma estrela da manhã, é a minha eterna companhia em noites de agonia, em que a escuridão pesa e a sinto sempre presente.
Nunca teve muito dinheiro, mas tinha uma alma e um coração enormes....tenho saudades do seu abraço, dos lencinhos da mão de pano, que me dava pela Páscoa...tenho saudades de tão nobres e verdadeiras intenções...
A minha avózinha era a casa de todos nós, o elo da família, a paz personificada num corpo.
Quero acreditar que, esteja onde estiver, nos protege e se lembra do passado com o mesmo carinho e saudade do que eu.
Não tinha escolaridade, mas era sábia.
Sabia e compreendia como eu gostava de Fernando Pessoa.
Não julgava, não atirava pedras....no limite, desprezava...
E hoje, em dia de Sto António apeteceu-me falar sobre isto.
Não tem de haver razões para falarmos das pessoas de quem mais gostamos e nos fazem falta.
O lugar dela nunca será ocupado por ninguém.
Tenho um coração grande e, nele, cabem todas as pessoas que mais amo neste mundo....não são muitas....muitas, sim, foram as que amei, mas poucas são as que perduram no meu amor.
A minha avózinha e aquela casa, de pedra, com eira, virada para o rio, com memórias das melhores festas, das melhores Páscoas, dos ovos cozidos e pintados, da ignorância simples....nunca se apagarão de mim.....são “chama que arde sem se ver” e Camões também já não mora cá, mas persiste....a “ferida que dói” e que se sente.
Ao meu Anjo maior, que me ilumina e dá alento em momentos mais tristes, recolhidos e meus, aqui fica a minha pequenina homenagem...
Fazes-me tanta falta, avózinha!....

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