Monday, October 29, 2012

"Hoje estou que não me entendo"

Hoje, estava o sol a desmaiar no mar, encontrei Pilar com o olhar fixo no horizonte.
Caíam-lhe algumas lágrimas do rosto e sentia-se a tristeza do seu coração...
- Que tens, Pilar?
- Tenho um vazio que não consigo preencher... daquelas crateras que nos rasgam a alma....
Dei-lhe a minha mão, como consolo e porto de abrigo, e ela continuou...
- Não percebo esta solidão...vivi tantos amores, tanta coisa que pessoas numa vida inteira não ousam sentir, mas...faz-me falta a normalidade... preciso de um amor tranquilo... de uma companhia...
Olho à volta e sinto pessoas desencontradas, que estão juntas e não se falam...
Preciso de abraços imensos, de beijos que não terminem, de dormir ao lado daquele que possa ser o pai dos meus filhos...
Preciso sentir o milagre da vida dentro de mim...
Sinto-me uma manta de retalhos...
- Não fiques assim, Pilar!...
- Mas, eu não consigo sentir de outra forma... sabes o que é passar cada Dia dos Namorados, cada Aniversário, a pensar se é nesse ou no próximo ano que o meu verdadeiro amor ACONTECE?
- E esse Amor já aconteceu dentro de ti? Talvez devesses começar por aí...
- Neste momento, Salomé, sinto um cansaço tão grande que só me apetece um colo, um milagre, um príncipe... eu sei lá... preciso de uma companhia que partilhe os meus valores e caminhe ao meu lado sem medo das palavras ou dos afectos...
Tenho saudades do que não vivi e a sensação de que tudo o que sinto e preciso não irá acontecer.
Esta minha mania de ser diferente tem um preço demasiado elevado.
Dói demais, Salomé...
O que é que eu não tenho que as outras mulheres têm, ou vice-versa?
Porque é que comigo nada acontece como ao mais comum dos mortais?
- Porque tu, Pilar... tu és ESPECIAL....muito especial...

Passaram umas semanas e Pilar transformou o seu nevoeiro num mar de sol.
Os pensamentos, colocou-os numa caixa, e optou por viver o Agora, o momento.
Porque, o que tiver de acontecer, acontece e, se no dia de Hoje, Pilar escolher SER FELIZ, ela é e ponto final.

Wednesday, October 24, 2012

A Travessia...



O ser humano é um bicho estranho…

Acha a vida difícil e nunca está preparado para lidar com a morte…

Percursos árduos e muito dependentes da força anímica de cada um

E do prisma pelo qual conseguimos ver as coisas…

A velha história do copo meio vazio ou meio cheio…

 

Maria chegou aos quarenta anos com uma vida emocional, rica, mas imprópria para cardíacos.

Foi uma adolescente asfixiada pela exigência e, não é que a dita a seguiu a vida inteira?

Sempre sendo muito exigente com os outros, mas ainda mais com ela própria.

Quando descobriu as artes...as palavras, a dança, a música, o canto, o teatro… apaixonou-se e atirou-se de cabeça em tudo… e foi aplaudida e invejada e elogiada e invejada…

Há seres humanos feios…

A inveja corrói o outro e o próprio e é lixo no coração e na estrada da vida.

Durante anos, realmente viveu do que mais gostava de SER e fazer e foi FELIZ.

Depois, CRESCEU e foi esmagada por uma sociedade que impões cursos superiores e profissões.

Mesmo sendo louca e à margem de muitas coisas…( eu diria, a revolução em pessoa)… tentou seguir um caminho mais ou menos normal, que lhe desse sustento para sobreviver…. No tempo que lhe sobra – e é tão pouco – vive… mas, às vezes a exaustão do que não gosta na sobrevivência, é tão imensa…. que, o pouco tempo não chega para viver, para pegar nos sonhos, tirá-los da gaveta e dançar com eles…para conhecer novas pessoas e se apaixonar…

Neste momento, Maria, com 40 anos, decidiu atravessar o deserto… não um deserto qualquer… o seu deserto…. Tenta não viver do passado e está a tecer esforços para situá-lo numa margem onde o possa visitar, mas sem estar presa ao mesmo…

Caminha sem saber em que direcção.

Sabe que quer ser feliz, que não pode abandonar o seu sustento e, a cada dia, o caminho é árduo em busca de um oásis…

Na mochila, leva os seus SONHOS, um caderno de apontamentos e música. Nada mais.

A alma está vazia e precisa de alimento.

Maria busca algum conforto na caminhada, apesar das pedras e tempestades de areia que encontra no caminho.

Algum dia, conseguirá encontrar o equilíbrio perdido?

Aquela sensação de bem-estar, de não fazer nada e olhar o mar para se energizar?

A travessia do deserto é dura…

Será que ela aguenta e se reencontra?

Está um futuro à sua espera no lado oposto ao Passado.

Resta-lhe conseguir VIVER o PRESENTE, encontrando alento e alegria no mesmo.

Como diria um amigo meu….PAZ!

Tuesday, October 23, 2012

As minhas Palavras...


Quando estou triste, escrevo.

Quando rejubilo de alegria, escrevo.

As palavras são os meus braços mais esticados e a lua cheia que vive em mim.

Na tristeza elas saiem mais profundas e com cicatrizes.

Na alegria são leves e trazem sempre um sorriso.

Nelas, encontro amigas, confidentes e companheiras.

Travamos uma espécie de diálogo como se de duas pessoas de tratassem.

Somos assim, muito próximas…muito gémeas…

Lembro-me muito de Fernando Pessoa, quando escrevo….

Quando chove, não há janela que não me traga a imagem de Florbela Espanca…

E na praia, só posso recordar Sophia de Mello Breyner e a sua simplicidade e ternura….

E a escrita não sei onde me leva hoje…

Eu gostava que ela me levasse a uma ilha bonita

Com músicas alegres e gente de bem com a vida.

Gostava que me arrancasse a tristeza que não consigo explicar

E me trouxesse a mulher de fibra que sempre fui e não sei onde está.

Adorava que me repusesse a energia perdida

Os sonhos desmaiados

Um ponto final na ansiedade

E tudo se desbloqueasse tão simplesmente como o sol se entrega ao mar, todos os dias.

Que as palavras me devolvam a garra, o tango, o pasodoble, a meditação, a Paz, o equilíbrio, as viagens, o tempo para os amigos e os amores.

Que as palavras tragam a bonança de um ano que tem sido conflituoso e carregado para toda a gente.

Que as palavras coloquem os problemas numa arrecadação, soltem as amarras e me deixem viver!
 

Monday, October 22, 2012

Tristeza, vai embora.... que minh'alma chora....

O que fazemos quando a tristeza
e a carência
vêm mar dentro da nossa alma
e se instalam?
O corpo quebra
sem lágrimas
mas com dor
e medos inexplicáveis...
O que fazemos quando não nos conseguimos confortar?
Quando a manta, o chá de canela e o livro preferido não chegam?
Onde vamos buscar o sol?
A esperança?
A luz?
A alavanca?
A garra perdida?
A lua cheia e a alvorada?
Não me sinto distraída
mas antes perdida....
Parece que saí do meu trilho
e não o consigo encontrar...
Só tenho perguntas sem respostas.
Olho para dentro e nem uma resposta....
Só pontos de interrogação
canções da Disney
Chuva
e vontade de gritar
de voar....não sei bem para onde...
Esta tristeza não parece minha...
Descolem este penso
que me magoa tanto a alma
e não me deixa respirar....
Viver no mundo dos afectos
às vezes...
dói....
E quando dói, rasga tudo
e passamos a bonecos de trapos
feitos de retalhos da vida...
E o tempo pode amenizar
mas leva tempo
e não há curas da alma imediatas
não há lareiras que aqueçam um desconforto tão permanente...
Há, sim, músicas que a elevam
mas nem por isso ela se reestrutura.
Apenas sorri de olhar cabisbaixo
e senta-se à espera
do dia em que o próprio abraço
seja alento para voltar a caminhar.