Saturday, January 23, 2010

Um tango no nevoeiro....a vida...


A tristeza e a Bethânia sentaram-se no meu silêncio a conversar

para eu conseguir chorar.

Não houve samba de neguinho, nem alegria.

Abriu-se uma porta do coração para deixar o lamento e a saudade sair.

Ficaram a esperança e um sonho de amor e aconchego,longínquo, distante...


Em sonhos, dancei um tango e entreguei-me perdidamente...

O suor transpirou reticências e lamentos adormecidos.

A loucura é assim...é a vida desviada...

Aparece intensa e desesperada

e deixa pendurado, ou na prateleira, o que ficou por fazer.


Nas vivências, as palavras intensas, a pele marcada e amada

num tempo efémero porque nunca houve tempo nem espaço.


Fica o muito do pouco, o mito, o grito, o alerta, o desespero do incompleto...

Ficam as mãos dos meus pianistas...as sonoridades mais bonitas e tristes..


E fico eu e a vida e o passado e o presente e o futuro

sentados na janela de um relógio que não pára

a tentar entender o porquê do lirismo dos prazeres diários

das vontades não darem lugar à realidade.


Como diria Jorge Fernando...."Ai, vida"...

Tuesday, January 12, 2010

The clown is crying




O palhaço tem por hábito um sorriso largo

uns olhos grandes e expressivos.

Esta noite, sentou-se na soleira da porta

com o coração partido na mão.

Passou uma criança e perguntou:

"Ficaste sem coração?"

"Partiu e nõ o consigo recuperar... Só o amor o pode reestruturar e, esse, não quer nada comigo!"

"Não fiques assim" - disse a criança - " Não percas a esperança! As coisas boas da vida acontecem quando menos esperamos."

O palhaço levantou o olhar, apertou o coração, olhou o luar e disse:

"É verdade o que disseste, mas é preciso acreditar...Eu só sei amar...amar perdidamente...estou velho e cansado e, se a vida não quis que eu fosse amado é porque não tinha de ser. É com mágoa que o digo, mas é verdade."

"E o teu coração, palhaço?"

"Está a chorar...."

Thursday, January 7, 2010

"That's all" é muito pouco para tudo isto


Sentei-me a ler os sons de cada dedo que deslizava no piano
Senti-me em New York City
Entre néons, saxophones, vozes negras
Jazz, soul, rhythm and blues
O andamento da música fez-me sentir o swing e dançar
A loucura é válida entre os sons e a cumplicidade
Não há limites
O palco e o público são um em êxtase e diversão total
O meu pé bate no chão
Fecho os olhos
A cabeça abana afirmativamente e com um sorriso
Que felicidade...
Se morresse agora, não me importaria...
É preciso sentir para viver!
“Baby, that’s all”


Dedicado a esse grande músico que é André Sarbib

André, um beijo e até jazz!

Charco da vida caída


Nas franjas do meu Fado
quis ser Severa
e Guitarra
dedilhada pelas tascas do Bairro Alto.

Fui a voz desigual
que rezou
e ousou cantar fervor
tristeza
ciúme
dor
e pecado.

Fui a alma dos versos
o refúgio de mim dentro
o desejo de todos
nas cordas por mim cantadas.

Sou as franjas do meu Fado
destino que me acolhe traçado.

"O caminho faz-se caminhando"
e eu cheguei aqui...
ao sítio sem nome
mas, onde sou...feliz!

Praia da Memória
26 de Dezembro de 2009