Mais um ano a chegar ao fim.
2013 foi, para mim, duas metades de uma só laranja - uma metade doce, a outra metade amarga.
Diria que, foi um bocadinho cruel porque, primeiro "adoçaram-me" a boca para, depois, me roubarem os beijos, os abraços, os sonhos, os projectos e até a saúde dos que amo.
Os primeiros 6 meses foram um sorriso gigante, a alegria estampada no rosto... reencontrei amigos, apaixonei-me, voltei a participar em projectos musicais criados de raiz, actuei, fui de férias sozinha ( pela primeira vez na vida) e adorei.
Foi tudo tão imensamente bom até Julho de 2013...
Foi no final desse mês "7" que o império ruiu...
Os sonhos caíram.
Eu parei.
O mundo parou.
Eu chorei e gritei.
O mundo desmaiou.
Vieram abraços, palavras, chamadas telefónicas de todos os cantos do universo.
Em cada país, cidade, aldeia, casa... uma alma generosa rezava para que o meu pai sobrevivesse... para que fosse suficientemente forte para reagir e se agarrar à vida. E, ao contrário de todas as expectativas médicas, ser transferido da Unidade de Cuidados Intensivos para uma Enfermaria.
O pai é forte.
O pai é muito forte e conseguiu resistir e ultrapassar as 48 horas de hipotermia, a cirurgia para colocação da traquiostomia... piscou os olhos, abriu, foi mexendo as pernas e os pés...
Enquanto todo este cenário decorria, atrás do pano, apagaram-se as luzes: quem me amava deixou de amar, os projectos musicais... tive de abandonar... o livro que escrevia, tive de parar...
Só tive forças para segurar a minha mãe e enfrentar o hospital, todos os dias, sem excepção e com um horizonte medonho.
Foi um Verão invernoso.
Foi um Outono triste.
O Inverno?
O Inverno começou agora e espero nos dê ( a mim e à minha mãe) algum conforto e descanso ( porque precisamos e merecemos).
Agradeço ( inteira e imensa, como sabem que sou) a cada um dos familiares, amigos ( e foram, e são, muitos), colegas de trabalho e vizinhos que nos deram ( e dão) palavras de alento e esperança.
Agradeço a todos os que se preocupam e nos fazem Acreditar.
2013 foi um Ano impróprio para cardíacos... foi um ano de emoções fortes, violentas, inesperadas, e até injustas.
Aprendi, da pior forma, a viver um dia de cada vez, com garra e força.
Aprendi que, somos muito mais fortes do que aquilo que julgamos ser ( porque, quando pensamos que não aguentamos mais, a vida coloca-nos à prova outra vez, sem tréguas nem perdão).
Aprendi que, há pessoas infelizes ( muito infelizes) e nos querem arrastar com elas... não me convidem! Só estou disponível para amar!
Aprendi ( reforcei) que, somos a nossa melhor companhia ( porque, há situações que só nós podemos e devemos enfrentar),
Aprendi que, há muitos cobardes e orgulhosos... coitados... nunca serão felizes!
Bom, aprendi tanta coisa que, não chegavam 365 folhas para preencher a amálgama de sensações e vivências que carrego e embalo dentro de mim.
Aprendi a viver feliz dentro de um quadro de grande tristeza... afinal, por negligência médica, sem ter pedido a morte a alguém, o meu pai transformou-se num ser vegetal que ouve, que sente, mas não se consegue exprimir, porque parte do cérebro morreu.
Duro de ler.
Duro de ouvir.
Pior de sentir.
Por isso, para 2014, peço Saúde... para mim e para os que amo.
Que o meu pai possa recuperar algumas faculdades que lhe permitam viver com o mínimo de dignidade e conforto.
Aos que, quase o mataram... "A vida é redonda..."
Aos profissionais de saúde que, agora, cuidam dele 24h/ 24h... um... "sou imensamente grata", porque trabalham com afinco, dedicação e paixão.
São gente de afectos.
No meio do deserto, finalmente, um oásis com a ajuda de uma estrelinha-guia.
A todas as famílias com que me cruzei no hospital ( e de quem fiquei amiga): Saúde e Coragem!
A vida é em frente!
Por favor, não deixem de viver, nem de acreditar.
E, porque a minha alma está próxima da boca, das mãos e do coração, vou parar por aqui, porque tudo se mistura sem eu querer.
Que 2014 seja um Ano de Saúde e Paz para todos.
Por favor... sejam felizes!
Obrigada!
