
A tristeza e a Bethânia sentaram-se no meu silêncio a conversar
para eu conseguir chorar.
Não houve samba de neguinho, nem alegria.
Abriu-se uma porta do coração para deixar o lamento e a saudade sair.
Ficaram a esperança e um sonho de amor e aconchego,longínquo, distante...
Em sonhos, dancei um tango e entreguei-me perdidamente...
O suor transpirou reticências e lamentos adormecidos.
A loucura é assim...é a vida desviada...
Aparece intensa e desesperada
e deixa pendurado, ou na prateleira, o que ficou por fazer.
Nas vivências, as palavras intensas, a pele marcada e amada
num tempo efémero porque nunca houve tempo nem espaço.
Fica o muito do pouco, o mito, o grito, o alerta, o desespero do incompleto...
Ficam as mãos dos meus pianistas...as sonoridades mais bonitas e tristes..
E fico eu e a vida e o passado e o presente e o futuro
sentados na janela de um relógio que não pára
a tentar entender o porquê do lirismo dos prazeres diários
das vontades não darem lugar à realidade.
Como diria Jorge Fernando...."Ai, vida"...