Tuesday, October 18, 2011

"As Serviçais"






À minha mãe....






Um dos melhores filmes do ano.



Uma das histórias mais comoventes e fantástica a que assisti, nas salas de cinema.



Sim, ir ao cinema fica caro e estamos em crise, mas o bálsamo que nos vem à alma tudo supera.



Sempre tive um enorme fascínio pela História dos Estados-Unidos, nomeadamente, pela escravatura, pelas suas estórias e relatos mais do que verídicos, as suas músicas, sabedoria, entrega, esforço que nós - pessoas de raça branca - não soubémos respeitar.



"Não te importes da raça nem da côr da pele" é o que apetece proferir a cada página da tela, a cada resposta "torta" a uma criada que, só por ser de outra côr não pode usar a mesma casa-de-banho dos brancos ( dizem, por causa das doenças que transmitem), não tem direito a opinião - apenas obedecer e trabalhar, trabalhar, trabalhar....sem resmungar....uma ditadura racial sem justificação, mas com consequências.



Depois de sair da sala de cinema, fiquei ainda mais feliz por os Estados Unidos terem um Presidente de raça negra.



A história de "As Serviçais" é a história, também, de muitas mulheres portuguesas que, com catorze anos, vinham das aldeias trabalhar árduamente para as "senhoras" da cidade - grandes vivendas, famílias numerosas, onde só o homem trabalhava e onde a criada era a cozinheira, a que engomava, a que criava os filhos da senhora da casa ( então preocupada com hipócritas acções de solidariedade e "chás das cinco" com tias da mesma forma que nem um bolo sabiam fazer).



Lembrei-me da história de vida da minha mãe, de quem muito me orgulho.



De pequenina, menina e moça, saiu de casa dos meus avós, onde uma sardinha dava para 6 ou 7 bocas....eram felizes no meio dos campos de trigo e do que a terra dava...mas não havia dinheiro para sustentar tanta gente...apenas boa-vontade e fraternidade....



Começou a ganhar dinheiro para enviar à minha avó e facilitar o crescimento dos irmãos mais novos....trabalhava de sol a sol - como "as serviçais" deste filme - a acordar à hora que os patrões quiséssem para levar água ao quarto, para trocar o pote sujo ao lado da cama, para embalar o filho mais novo que chorava - o senhor da casa precisava descansar a mente para ir trabalhar no dia seguinte.



Orgulhei-me tanto daquelas mulheres negras e lindas....do filme....e, em paralelo, senti, sinto e sentirei um enorme orgulho na minha mãe que, com 73 anos, juntamente com o meu pai, percorreram um caminho de trabalho digno e árduo, pouparam e deram-me aquilo que eu considero uma boa Formação.



Aprendi com as suas histórias e com a escola da vida.



Ainda hoje aprendo....



E....com este filme, também aprendi....acrescentei mais alguma coisa aos meus quase 38 anos.



Sinto-me imensa e feliz...por ser a pessoa que sou, grata pelos pais que tenho, pelos sonhos que concretizei, por ainda conseguir ser criança nas emoções e nos afectos - creio que, de uma forma eterna - por amar as palavras, a escrita, o "soul" e os "blues" desta raça negra que foi escrava como alguns brancos também o foram e ainda são.



Vejam o filme!



Leiam o livro!



Repensem as v/ vidas e agarrem os v/ sonhos com luta, coragem, crença, perseverança....



"As Serviçais" ( "The Help", em inglês) pode ter uma fatia de história e pensamentos de cada um de nós...é, simplesmente, genial!....



3 comments:

Anonymous said...

Muito interessante. E uma lição de cultura norte-americana.
Bem haja
Clara

ines gaivota said...

Obrigada.....

Abílio da Fonseca said...

Este texto prova, não apenas que os negros têm a alma branca (os que a têm!) e que a Autora É, isto significa que ela existe, tem Peso, tem Alma e tem Coração. E É exemplo.